quarta-feira, 10 de junho de 2020

Sobre a masculinidade frágil e as feridas que ela causa


Dias atrás me deparei com um “coach” ensinando como mulheres deveriam ser para conseguir ter um relacionamento duradouro com um “homem viril”. – credo-

Mas que diabos seria um homem viril?

A gente cresce com tantas doutrinas arcaicas enraizadas devido aos padrões impostos pela sociedade que, em pleno 2020, tem coisa que ainda não me surpreende.

Dentre essas inúmeras doutrinas, nos deparamos sempre com o patriarcado e o machismo.

O patriarcado nada mais é do que o sistema social em que os homens detêm o poder primário dentro de várias áreas: econômica, política, detêm os privilégios sociais (como por exemplo, ganhar mais do que uma mulher), dentre outras áreas.

O machismo é um fruto desse sistema, dando superioridade aos homens sobre as mulheres. O triste e preocupante é que até nós, mulheres, crescemos com isso na cabeça.

Antes que alguém fique “mimimi feminismo quer que a mulher tenha autoridade sobre o homem, suas peludas feminazi”, recomendo ler sobre FEMISMO. O femismo, sim, é o mesmo que o machismo. ESTUDEM antes de falar bosta. De burros já bastam nossos governantes. 

O femismo prega a autoridade do sexo feminino sobre o masculino, do mesmo jeito que o machismo prega a autoridade do sexo masculino sobre o feminino.

O Feminismo têm como objetivo pregar a igualdade entre os dois sexos.

- Observação : O movimento feminista têm vários pontos que ainda precisam ser levantados e debatidos (como o feminismo branco, o feminismo que exclui mulheres trans...), mas vamos nos ater a esse objetivo geral, de igualdade de gêneros nesse divã, ok? Porque o assunto é exteeeeenso...

Enfim, voltando.

O patriarcado alimenta o machismo - e vice-versa - com o estereotipo de: homem que é homem não chora, é macho, não faz “serviço de mulher” e tem sempre que ser o dono da palavra, da casa, da conversa, de tudo. Ele não pode ser “submisso” (porque senão é etiquetado como “mulherzinha”), ele não pode ouvir sua companheira nas decisões que precisam ser tomadas em conjunto, porque ele é o único que deve ter a palavra e tomar decisões.

O homem viril não pode lavar louça, nem roupa, nem varrer a casa, nem cuidar dos filhos sozinho, porque senão o pau apodrece.

Ops. “sorry not sorry”.

Por que os homens não podem simplesmente dividir as tarefas de casa sem terem que sofrer julgamentos machistas?

Por que homens não podem simplesmente chorar quando estão tristes, ou procurar ajuda quando precisam sem terem os “amigos” enchendo o saco gritando aos quatro ventos “aaah, seu fracote!”?

Porque , desde não sei quando, o homem tem que passar a imagem de protetor, provedor...

Helloo-oou, estamos em 2020, queridos e queridas. O homem das cavernas já se foi há muuuuuitos anos e o homem não precisa mais focar só em prover alimento e proteger o território. Já passou a época em que homens agarravam pelos cabelos as mulheres com quem queriam acasalar e tudo isso era ok.

Será que tá difícil de entender isso?

Ali, no começo, quando inclui as mulheres no meio da panela machista, me referi às “influencers” que amam berrar pra 328463761903-39u3-9ej seguidores que “mulher tem que transar sempre que o marido quiser. Que não é sacrifício nenhum abrir as pernas e deixar o marido se satisfazer, que mulher de verdade tem que deixar a casa em ordem pro marido, tem que cozinhar, cuidar dos filhos...

MINHA FILHA, DESSE JEITO OS ALIENÍGENAS NUNCA VIRÃO PRA ESSE PLANETA ME RESGATAR. PARA COM ISSO PELAMORDEDEUS.

É tanta merda dita e tanta gente acreditando e seguindo esse tipo de “conselho” e esse tipo de “coach influencer” que minha fé na inteligência do Homo sapiens sapiens diminui drasticamente, dia após dia.

“mas o que tem a ver o título desse texto com tudo isso que você disse, Cristinica?”

VAMOS LÁ

1- Quando o homem tem a sua masculinidade que foi moldada pelo sistema patriarcal machista posta em jogo, ele fica mal, achando que vai perder o pinto. Desculpem a sinceridade mas é. Meu, lavar uns pratos não te faz impotente, sabe?

2- Quando o homem acha que não deve fazer tarefas domésticas seja por medo do pau cair ou por medo do julgamento alheio, as mulheres que vivem junto com ele se fodem trabalhando 5x mais. E isso vale não apenas para convivências marido-mulher. Vale pra convivência, mãe-filho, irmão-irmã, homem em geral que vivem na mesma casa que uma ou mais mulher. Sabia que tirar o pó na porra da sua mesa de computador/TV não te deixa de pau murcho?

3- Quando uma mulher “influencer” diz que “temos que satisfazer nossos maridos porque isso não é nenhum sacrifício”, ela faz várias mulheres acreditarem que podem ser estupradas, que não é algo errado e vão viver isso por muitos e muitos anos antes de se darem conta da gravidade do que tá acontecendo naquele relacionamento.  A mulher não é obrigada a NADA. N-A-D-A ! E, mulheres, pelamordasdeusas, vocês não assinaram contrato nenhum falando que é sua obrigação satisfazer sexualmente seu marido/namorado/noivo contra sua vontade.

4- Quando o homem cresce com essa imagem fixa na mente de que “homem que é homem é macho viril”, ele causa feridas nele mesmo. Ele cresce crendo que não pode desabafar, não pode conversar, não pode ajudar em casa, não pode dividir tarefas e decisões com sua companheira. E isso causa problemas psicológicos, conjugais, sociais... O homem fica com medo de procurar ajuda profissional caso precise, afasta sua companheira (ou possível companheira), se isola...

Você não precisa ser “homem viril” pra conquistar ninguém. É sério.

hur dur mas mulher gosta de homem macho, porque eu já fui chutado mesmo sendo legal

Já parou pra pensar que, a mina que te chutou pode ter em mente essa imagem de “homem viril” e ela achou “estranho” o seu comportamento decente, respeitoso e sensato – típico de um ser humano normal, nada de se vangloriar, ok?

Dá pra perceber que o machismo deixa marcas tanto em homens quanto em mulheres?

Pra vocês terem noção de como isso tá fixado no nosso psicológico de uma maneira tão, mas tão forte, que até as mulheres, pessoas que sofrem com o machismo e com o sistema patriarcal acabam agindo de acordo com essas doutrinas, e muitas vezes acabam nem percebendo. Vide o exemplo de “influencers” citado acima. Na cabeça dessas mulheres, homem de verdade é aquele que manda. Na cabeça dessas mulheres, é normal apanhar do marido/namorado/companheiro. É normal dar conta de casa/trabalho/filhos sozinha, e ser julgada como incompetente quando ela não dá conta de tudo. Na cabeça dessas mulheres, ela se sente a culpada por não estar num relacionamento porque não se comporta como “mulher de verdade”.

Saindo do quesito relacionamentos, tem mulher que acredita que é a culpada nos casos de abuso sexual praticado por familiares e até mesmo estranhos!

Tá dando pra ver o tamanho da bosta que é esse negocio?

Tá dando pra perceber o tanto de feridas e cicatrizes que o machismo e a fragilidade dessa masculinidade padronizada deixa em homens e mulheres?

Quando eu leio ou escuto o termo “homem viril”, já vem na mente a figura de um cara, largado no sofá, bebendo cerveja, vendo futebol/jogando vídeo game, coçando o saco gritando “oh, mulher, me traz mais cerveja!” . Resultado da criação – machista- de um menino que sempre teve tudo feito pela mãe, e que , ao entrar num relacionamento, procurou uma mulher pra repetir o papel da mãe, mas agora com os “benefícios “ do sexo. (cof cof complexo de édipo nível extremo )

Cruzes!

Quero homem viril bem, mas bem longe de mim. Rejeito as dicas do “coach” e continuo na jornada sola –  e sem muitas participações especiais, pra não cair em ciladas.
Olha aí, tá vendo? Mais uma ferida. A ferida do medo de me relacionar com um cara e ele achar que tenho a obrigação de substituir a mãe dele...

Foda, né?

Se você é homem e não se encaixa nesse perfil de “homem viril”, faz um favor pra gente e, principalmente pra você mesmo: continue não se encaixando.

Depois de 84 anos, esse foi o Divã de hoje.

Se cuidem, vai embora logo corona do inferno, e até a próxima ;)

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Sobre Solitude e Solidão



 Depois de vários meses ausente, estou de volta começando 2020 passando por uma fase meio sei lá, como se estivesse me movimentando embaixo d’água enquanto o resto do mundo se movimenta a 1000 km/h, volto com esse desabafo para mim mesma nesse divã virtual que poucos leem xD

Antes de começar, gostaria de agradecer ao Juliano por me incentivar a voltar a escrever nessa bagaça 😀

O textão de hoje será a comparação entre solidão e solitude. Sentimentos confundidos por todos nós (inclusive eu) e que levei um bom tempo para conseguir diferenciá-los e saber lidar com cada um sem quase surtar.

Lembrando que o que escrevo aqui são coisas e experiências vividas por mim. Não são verdades absolutas e podem não acontecer com todo mundo.

Cada um com suas experiências, taokei?

Solidão.
“Estado de quem está só, retirado do mundo ou de quem se sente desta forma mesmo estando rodeado por outras pessoas; isolamento”.
Estar rodeado de pessoas não significa necessariamente estar ou se sentir acompanhado.

Solidão é estar rodeado de amigos e ainda assim se sentir excluído pelo fato de não conseguir acompanhar seus palcos virtuais da vida perfeita sem defeitos e sorrisos constantes.

Solidão é querer perguntar algo sobre uma situação, olhar sua lista de contatos e não ter ninguém que você considere atencioso o suficiente pra te responder.

Solidão é ter amigos mas não conseguir desabafar suas dores e, quando consegue colocar pra fora aquilo que algumas vezes te sufoca, você acaba guardando elas no bolso pra dar atenção às dores deles.

Solidão é você não sentir a intensidade das próprias vontades simplesmente porque aprendeu a descarta-las para não cair nas armadilhas do sofrimento.

Solidão é olhar para as pessoas e saber quem e como exatamente elas são e, quando olha no espelho, não faz a mínima ideia a quem pertencem aqueles olhos e nem aquele cabelo.
  

Solitude.
“Condição de quem se isola propositalmente ou está num período de reflexão e de interiorização”.
Estar sozinho não significa necessariamente estar em sofrimento ou em abandono.

Solitude é estar só consigo mesmo e não sentir a necessidade de estar na companhia de alguém. É se sentir plena com a sua própria companhia, saber ouvir sua própria voz, gostar do próprio sorriso, do próprio estilo, dançar na frente do espelho e se sentir a pessoa mais linda do universo.

Solitude é se sentir completo e não esperar que outra pessoa te complemente nem que outra pessoa te transborde pois você é riacho, lago, rio e oceano. Tudo depende do dia e do seu estado de espírito.

Solitude é abraçar suas sombras. Sem medo. Compreendê-las, transformá-las e deixa-las ir para que outras sombras possam chegar para que sejam compreendidas.

Solitude é entender o olhar do seu bichinho e saber que aquela é a única companhia (além da sua) que você realmente deseja ter em todos os momentos de sua vida.

Solitude é,  após vários anos de solidão, se olhar no espelho e dizer “ Seja bem vinda de volta!”

           Apesar de parecidos, esses sentimentos são bem distintos e acabam gerando uma confusão para quem os sente.Muitas pessoas vão te questionar sobre o porquê você não gosta de sair de casa às sextas, ou vão achar um absurdo quando você disser que não quer ter filhos porque “não vai ter ninguém pra cuidar de você quando envelhecer”.
        Várias outras pessoas vão achar isso mais absurdo ainda se você tiver um útero, porque a maioria do mudo acredita que úteros precisam gerar vidas e mulheres precisam se casar pra serem completas.
           Quando comecei a ser questionada sobre casamento e maternidade, eu me sentia um monstro por não ter nenhuma dessas vontades na minha lista da Ju do futuro. A única visão que eu tinha como pessoa realizada era eu, no meu cantinho vivendo com meus bichos. E só.
          Depois de anos negando minha própria identidade (tanto física quanto psicológica) e minhas vontades por medo do julgamento alheio, eu entendi o que era realmente solidão e o que era me sentir completa. Eu me sentia só porque não me encontrava e não me aceitava como a pessoa que sou.
          A aceitação começou quando deixei meus cachos voltarem. Continuou com a afirmação sem culpa na consciência de que eu não quero ser mãe e nem me casar, passou pela a mudança de alimentação por motivos pessoais sem eu dar a mínima para o que as pessoas iriam me chamar.

Hippie abraçadora de árvore que come alface e feminista

         Isso pra mim, hoje, aos 28, é puro elogio. Simplesmente porque, quem me julga tentando usar esses adjetivos de forma pejorativa não conhece metade da minha história e não tem ideia do que se passa na minha cabeça.
          Eu sei. Eu entendo. E só isso importa.

Eu me sinto quando fico rodeada de gente que não me compreende e tenta me mudar.

Eu me sinto completa quando estou com pessoas que me aceitam mesmo sem me compreender. 
Eu me sinto completa quando estou só comigo mesma.

E você?
Quando se sente só?

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Sobre responsabilidade das ações

Hoje vim contar duas estorinhas sobre a mesma pessoa (fictícia, óbvio), em duas versões, pra deixar uma reflexão sobre tudo o que anda acontecendo atualmente no nosso querido (e fodido) BraZil. 

Com Z mesmo. 

Vamos lá. Prontos pra duas estorinhas?

Vamos nomear a criança pra facilitar ainda mais o entendimento, porque tem gente que tem muita dificuldade de compreensão.

Jocicleide
O nome da nossa personagem é Jocicleide.

Aliás, se alguma Jocicleide ler isso, saiba que foi um nome aleatório que veio à cabeça, ok?

Veremos duas versões de vida que Jocicleide poderia viver e as consequencias dos seus atos, de acordo com a educação e conselhos que ouviu dos pais desde pequena. 

Versão 1

Jocicleide aprendeu desde pequena que não era legal falar mal do amiguinho na escola, aprendeu que era bacana respeitar os professores, que não era legal judiar de bichinhos nem de outras pessoas com quem ela convivia. 
Seus pais sempre disseram pra ser educada, ensinaram Jocicleide a falar "por favor, com licença, obrigada, bom dia, boa noite...", as coisas básicas para uma convivência suportável.

Os pais de Jocicleide também ensinaram na adolescência que não era legal ela beber e dirigir embriagada, porque ela corria risco de vida e podia também colocar a vida de outras pessoas em risco com essa atitude irresponsável. 

Os pais também diziam sempre que usar drogas fazia mal à saúde, que ela devia se alimentar bem, tomar cuidado nas relações sexuais pra não pegar doenças.

Os pais de Jocicleide sempre a aconselharam e sempre a alertaram o que era perigoso para sua vida/saúde. Sempre quiseram o melhor para a filha, mas sempre souberam que cabia somente à ela seguir os conselhos que a ajudariam levar uma vida sem problemas, imprevistos, etc. Porém, sempre impuseram limites. Castigos quando ela fazia algo errado, disseram não várias vezes e ensinaram que ela não poderia ter tudo o que queria sempre que queria.

Porém, Jocicleide resolveu fazer tudo ao contrário. 

Ela judiava dos bichinhos quando era criança, maltratava os coleguinhas na escola, na adolescência não tomou cuidado e transou sem camisinha, acabou pegando uma doença sexualmente transmissível, e, pra fechar com chave de ouro as sequências de suas ações, quando conseguiu sua CNH (que teve que pagar do próprio bolso pra aprender o valor do dinheiro), pegou o carro dos pais, saiu dirigindo uma noite embriagada, atropelou duas pessoas, causando a morte de uma delas e a outra vítima  perdeu uma perna. Jocicleide não sofreu nenhum arranhão. Os pais de Jocicleide, arrasados, não ajudaram a filha em seu processo de acusação e deixaram que ela pagasse pelos seus atos.

Quem é culpado pelos atos de Jocicleide: os pais, que a educaram e sempre mostraram como fazer pra evitar as cagadas da vida, ou Jocicleide, que ignorou todos os avisos dos pais, meteu o louco e fodeu com a vida de outras pessoas (e a dela também)? E, Jocicleide repetiria as mesmas merdas depois que cumprisse a pena?

Versão 2

Jocicleide cresceu sempre vendo e ouvindo os pais judiando de bichinhos, maltratando os outros, dirigindo embriagados. Os pais achavam que doenças sexualmente transmissíveis eram piada, que todo ser humano tinha liberdade de fazer o que bem entendesse.

Na escola, Jocicleide ouvia que existiam doenças, que era perigoso dirigir bêbada, que não era legal judiar de outros seres vivos, que ela tinha liberdade de escolha mas que sua liberdade de fazer o que queria terminava quando começava o direito do próximo. Ela ouviu na escola a professora dizendo que, na vida, havia regras e limites.

Uma vez, Jocicleide contou aos pais o que ela ouvia na escola. 
Os pais, que eram sua fonte de confiança e autoridade, disseram:

-Jocicleide, minha filha, doenças são teorias da conspiração, é tudo mentira. E você pode fazer o que você quiser. Tá tudo liberado nessa vida. Estamos com você e você tem nosso apoio!

Ouvindo isso, Jocicleide começou a judiar dos bichinhos, continuou maltratando os coleguinhas na escola, na adolescência não tomou cuidado e transou sem camisinha, acabou pegando uma doença sexualmente transmissível, e, pra fechar com chave de ouro, quando pegou sua CNH (que foi paga pelos pais), pegou o carro dos pais, saiu dirigindo uma noite embriagada, atropelou duas pessoas, causando a morte de uma delas e a outra vítima  perdeu uma perna. Jocicleide não sofreu nenhum arranhão. Os pais, preocupados com a filha, pagaram todos os gastos no processo de acusação, e depois que cumpriu a pena (reduzida porque os pais conseguiram molhar as mão certas com notinhas azuis), ganhou um carro novinho em folha.

Nesse caso, quem tem culpa das ações de Jocicleide: os pais por a aconselharem mal a vida toda e não colocarem limites em Jocicleide, ou Jocicleide por acreditar que os conselhos dos pais estavam certos? E, Jocicleide repetiria as mesmas merdas depois de cumprir a pena?

Fica aí a reflexão de hoje, meus queridos. 

Esse Divã é dedicado a todas as pessoas que estão com uma doença chamada "cegueira do chupa ovo" e não conseguem ver onde está a responsabilidade das cagadas que só aumentam.

Sabe aquela diarreia que, normalmente , a gente cuida pra sarar logo e se recuperar?

Então, essa diarreia tá sendo piorada a cada dia que passa, e logo logo, vai tá todo mundo, EU DISSE TODO MUNDO, nadando na merda, enquanto aqueles que têm os ovos chupados pelos cegos e ignorantes, riem da nossa cara. Inclusive daqueles que chuparam seus ovos.

Tchau.

E façam o que vocês quiserem. 
Eu sempre finalizo pedindo pra jogar lixo no lixo, não usar canudinho... mas hoje vai ser : Enfiem o canudo no nariz e comam seu lixo se quiserem.

Tô nem aí.

terça-feira, 9 de julho de 2019

Sobre sereias, preconceito e o conhecimento histórico-cultural que muita gente não tem.

Recentemente, muita gente fervilhou por conta da escolha da atriz que fará o papel de Ariel, a sereia famosa de um dos clássicos da Disney. 
Todo o rebuliço causado foi, simplesmente, porque a atriz é negra.

E é lógico que eu fervilhei no time #vaiterArielnegrasim

Cansei de ler:
"mas não existe sereia negra"
"mas a Ariel é branca de cabelo vermelho"
"não estão sendo fiel ao personagem"

Sem contar em postagens com montagens dos filmes clássicos da Disney contendo: uma Pocahontas albina, uma Rapunzel careca, um golden no lugar do rato de Ratatouille e um homem negro no lugar da Mulan.
Tudo a ver, né? Nossa...

E mais um monte de abobrinhas esdrúxulas e sem nenhum, repito, NENHUM, motivo diferente do que eu acho preconceito.

SIM.
PRECONCEITO.

Antes de mais nada, SEREIAS NÃO EXISTEM. Princesas adormecidas também não. Príncipes encantados em cavalos brancos também não
Querem que tudo seja fiel ao personagem?

Here we go.

Sabem de onde os contos de fadas da Disney são inspirados?
Em historinhas bem bizarras. 

Cinderela? Na versão original, as irmãs cortam os pés pra vestirem os sapatos, Cinderela morre e não existe fada madrinha.

Branca de Neve? Na versão original o príncipe deixa o caixão cair e o pedaço de maçã que tava engasgado na garganta dela cai, e ela acorda (super sensata essa versão também, né?)

Bela adormecida? Apesar de eu ter amado a versão dessa história em Malévola, ela também não tem nada a ver com a versão original. Na verdade, ela é estuprada pelo príncipe enquanto dormia por conta do feitiço e é acordada pelo filho chupando seu dedo, que é quando ele tira o espinho dela e ela acorda. Em algumas versões, ela acorda sendo devorada por quatro filhos.

Legal, né?
Ainda nas versões originais:

Chapeuzinho vermelho come a carne da própria avó e bebe o sangue dela achando que é vinho. Depois é devorada pelo lobo. 
Ainda faz super sentido a versão original, porque, né, lobos matam pessoas e fazem outras comerem a carne de quem eles mataram. 

Adiantando um pouco as versões originais: na versão original (não "disneyzificada"), Ariel tem a língua cortada, não se casa com o príncipe e acaba virando espuma no final.

Porém, todas as princesas da Disney foram caracterizadas iguaizinhas às das versões originais, assim como as histórias.
*deixa eu avisar que estou sendo irônica, ok?*

Agora, vamos aprofundar mais um pouquinho nesse rebuliço. Vamos falar sobre MITOLOGIAS e ETNIAS.

RESUMINDO: (porque se colocar explicação grande aqui tem gente que não vai entender)

Etnia : homogeneidade cultural. O povo tem o mesmo costume, mesma origem, características físicas, língua, religião... (a etnia, antes "raça", é característica de uma população REAL, que EXISTE. Logo, histórias que contém uma carga histórico-cultural de seres étnicos deveriam, sim, manter suas características físicas iguais ou o mais idêntico possível aos personagens)

Mitologia: estudo conjunto dos mitos de determinado povo (ex: mitologia nórdica/grega/indígena/indiana). 

Mitos: seres fictícios (muito importante reafirmar isso atualmente).
Notem que, cada LENDA leva as características de cada cultura. As lendas existem, são contadas através de gerações etc, etc, etc.

Tendo em mente a diferença entre ETNIAS e MITOS/MITOLOGIAS, vamos debater.

Pocahontas é personagem étnico. É uma índia norte americana. Existiu e sua história também foi romantizada pela Disney. 
Moana é um personagem étnico. (procurem sobre tribos Polinésias, eu não sou google e isso ia ficar enorme e cansativo de ler)
Jasmine é personagem étnico. Ela é árabe.
Mulan é personagem étnico. Ela é chinesa.

Logo, se a chapéuzinho vermelho, Cinderela, Bela adormecida, Ariel, fossem protagonizadas em histórias animadas por princesinhas negras na época que Walt Disney resolveu fazer desenhos romantiquinhos para iludir meninas, o que mudaria além da cor da pele das personagens?
*Concordo que Branca de neve ficaria estranha porque ela tem esse nome por conta da pele branca como a neve. Mas aposto que se colocarem uma atriz albina pra fazer o papel dela vai ter gente enchendo o saco*

Pois é. NADA. As histórias seriam as mesmas. Porém, várias meninas de pele mais escura teriam tido uma infância diferente (e o estereótipo de príncipe encantado também seria outro se os príncipes também não fossem todos branquelos montados em cavalos brancos. Tem bastante coisa "branca" aí ao longo da História, né não?)

Agora, o negócio muda quando você substitui um personagem étnico. Características físicas presentes nas etnias são o que diferem povos de determinadas regiões.

Então, porque diabos a gente vê egípcios brancos nos cinemas? Deuses egípcios brancos. Latinos sendo representados por atores brancos no cinema. 
JESUS CRISTO é representado como um cara branco de olhos azuis sendo que ele nasceu NA POHA DO ORIENTE MÉDIO!

Depois de toda essa recapitulação, você ainda tem coragem de falar a merda "não estão sendo fiel ao personagem" ?!

Depois da resumida explicação sobre ETNIAS e MITOLOGIAS, ainda vai insistir que "não existe sereia negra"? 

Okay.
Here we go again.

Na escola, por acaso já ouviram falar na lenda da Iara, mãe d'água? É mitologia indígena BRASILEIRA

Yara, Iara, Y-iara, é um ser, feminino, meio humano meio peixe, que canta lindamente no rio Amazonas atraindo pescadores para o fundo do mar (já ouviu essa história antes, né? Seres metade humano, metade peixe, que cantam, enfeitiçam homens, bla bla bla...). então. 
É uma sereia. Igual a Ariel. Iara, por ser um ser da mitologia indígena, é uma sereia de pele mais escura. 

Viram? 
O mesmo ser. Com as mesmas manias doentias de cantar pra enfeitiçar homens e matar os coitadinhos...
Só que com características físicas diferentes das sereias dos contos dinamarqueses/gregos/africanos.

O QUÊ? SEREIAS AFRICANAS?

SIIIIIIIIMMMMMMMMMMMM!

SEREIAS SÃO SERES MITOLÓGICOS QUE EXISTEM NA POHA DO MUNDO TODO, CARALHO.

O que acontece é que, Ariel, do desenho, ganhou vida e cores nos anos 1989/1990 (não lembro direito). E, sabe qual padrão de beleza predominava nessa época?
EXATAMENTE. Pele branca, cabelo liso, corpinho de Barbie e princesas fofinhas super femininas apaixonadas por caras utópicos. 
Isso dava dinheiro. 
Vai teimar que se tivessem feito uma Ariel negra naquela época, ela teria feito sucesso?

(E quem, no mundo real e no mundo mitológico, tem um cabelo liso super sedoso vivendo na poha da água salgada do mar?!)

O negócio é: não é só representatividade existir uma Ariel negra.
É meio óbvio isso mas: quem escolheu a atriz pra fazer o papel tá levando em conta a voz, técnica teatral, E QUE ELA VAI REPRESENTAR UM SER MITOLÓGICO, não étnico.
Se quiserem reclamar do fato de "não serem fiel ao personagem", substituam as imagens de Jesus, Maria e os discípulos que vocês guardam aí por imagens com características físicas reais (e reclamem dos filmes também. Quero ver alguém ir no cinema ver A paixão de Cristo com atores fiéis aos personagens), reclamem da Jasmine nada indiana, dos egípcios branquelos de olhos azuis dos cinemas, dos índios não índios em novelas...

Sereias não existem e nem vão existir depois que a Halle fizer o papel (e espero que ela esfregue na cara de todo esse povo nojento que cor de pele não impede ninguém de atuar bem). 

Não é a atriz que precisa mudar. 
É a falta de noção e conhecimento histórico do povo que precisa melhorar.

BÔNUS: 
**Se voce ainda mora/nasceu no Brasil e ainda insiste em falar "não existe sereia negra", tem que voltar lá no prézinho pra ouvir as historinhas que as professoras contam sobre as lendas indígenas. 

Vale pesquisar mais sobre as sereias africanas também, viu?

Não ver nenhum problema em "existir" uma sereia negra não é questão de ser alguém "chato politicamente correto". E sim ter noção de que seres mitológicos são seres fictícios e podem ter características variadas porque a história será a mesma.

Porém, etnias EXISTEM e precisam, SIM, ser respeitadas. Simplesmente porque EXISTEM e são características REAIS de um povo REAL.

Mas tem gente que não liga muito pra isso e prefere xingar muito no twitter a escolha de uma atriz negra pra fazer o papel de um ser MITOLÓGICO do que achar ruim ter sido enganad@ a vida toda com a cara branquela do Jesus que estampa o calendário, as estátuas nas igrejas, camisetas, e livros religiosos infantis...

Já cansei demais minha beleza mestiça indígena baiana/ mineira. Espero que pesquisem mais sobre mitologias porque têm histórias fantásticas que a gente viaja demais e acaba conhecendo um pouco mais sobre DIVERSIDADE e não fica pagando mico no crédito parcelado em mil vezes no cartão com limite estourado falando asneiras. Tem como usar a internet pra "aumentar" o tamanho cérebro, sabiam? 

Esse foi o Divã de hoje, depois de muuuuito tempo! 

Não usem canudinhos de plástico, joguem seus lixos no lixo, lembrem que mitos são seres fictícios e até o próximo Divã. 


;*

- desculpem os palavrões. Mas eu li que é bom soltar os cachorros de vez em quando xD





quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Sobre gatos e o Amor


E aí, pessoal! Como passaram o mês de janeiro?

Estou atolada de amigurumis para fazer, comecei a coleção dos vingadores com receita autoral e tô quase pirando porque não fiz nem metade do que estabeleci como meta pra mim, mas tudo bem...

Hoje vim falar sobre gatos.

Várias vezes me peguei pensando nisso, e resolvi organizar os pensamentos e esvaziar a massa cinzenta escrevendo sobre isso.

Já disse que sou gateira E cachorreira, né? Falarei sobre os cães em outro momento, podem ter certeza!

Assim como os cães, os gatos também amam seus donos e nenhuma pesquisa científica e nenhuma crença besta vai me fazer acreditar no contrário. Eles nos amam SIM, porém, de forma livre, independente e sem necessidade de contato físico simplesmente porque eles nos sentem com a alma.

Cães e gatos são nossos anjos peludos que vêm para esse mundo pra nos ajudar a ser pessoas melhores. Com eles aprendemos muitas coisas: responsabilidade (que falta para muitos ainda, mas quem sabe um dia a espécie humana consiga evoluir de vez...), altruísmo, empatia, carinho, cuidado, amor... eles despertam na gente sentimentos que, às vezes, nem sabíamos que poderíamos sentir.

Os cães nos ensinam o valor da fidelidade e companheirismo, enquanto os gatos nos ensinam que não precisamos possuir o próximo para amá-lo.

Quem tem um gato (ou vários!) sabe como é: eles não curtem melação, não gostam de paparicos exagerados, nem que a gente fique em cima deles 24h por dia após certa idade.
Tipo adolescente que aprende a pegar o ônibus sozinho para ir à escola, sabem?

Assim que eles chegam numa certa idade, eles conseguem se virar sozinhos e gostam de mostrar isso. Aprendem onde está a comida, onde está a caixinha de areia, aprendem a subir no sofá, na cama, na estante, nas nossas costas... E ai de quem ajudar!

E carinho? É aquele carinho básico e na quantidade suficiente para que ele entenda que você o ama, que se ache uma divindade e um ronronado rápido como resposta. Eles não dão mais do que a gente precisa e às vezes a gente acha que precisa de muito... e vem aquela mordida de “chega, humano. Sem exageros, pelo amor de Bast! ”

Gatos sabem que entramos num estado de transe quando assistimos eles dormindo. Eles sabem que a gente morre de rir quando estão brincando com um grãozinho de feijão ou um pedaço de papel amassado. Eles têm a capacidade de sentir de longe nossa energia e, creio que seja por isso, que não precisam tanto do contato físico do mesmo jeito que nós (achamos que) precisamos.

Para quem é mais sensível e consegue sentir a energia ao próprio redor, entende perfeitamente do que estou falando.

Já chegou em algum lugar e sentiu um “ar pesado”, ou “uma calma repentina”?  Ou já chegou perto de alguém e, mesmo sem a outra pessoa falar uma única palavra, sabia que ela estava triste ou alegre?

Se já, multiplica isso por mil. Um milhão, talvez. Esse é o nível de sensibilidade dos gatos. Eles sentem com a alma e, por isso, dispensam o toque.

É claro que existe amor entre felinos e humanos. Não existe “gato sem sentimento”, e sim humano carente demais. Não existe “gato traiçoeiro”, e sim humano mente murcha.

Se a espécie Felis catus já sofre preconceitos por essas crenças inúteis, os gatos pretos então, coitados... em pleno século 21 ainda existem humanos presos na era medieval que ainda creem que eles dão azar. Naquela época, eram dados como bruxas disfarçadas e até hoje são rejeitados com a desculpa de má sorte. Há quem não queira um gato preto porque não saem bem em fotos... pobres fotógrafos ruins de celulares ruins.

Ainda bem que sou boa fotógrafa e minha câmera (e meu celular) são bons, né Maya?

                                            Maya da Silva Sauro, faz 4 meses dia 06/02/19

Eu tenho gatos desde os sete anos. O primeiro eu trouxe para casa escondida da minha mãe porque ela odiava gatos. Dizia que eles eram sujos, traiçoeiros... Depois do Oliver a gente nunca mais ficou com a casa sem um gato.

Eu lembro de todos os gatos que já tive e o que cada um fazia. Todos foram especiais à sua maneira, mas sempre teve aqueles que tocaram mais fundo na minha alma e que me ajudaram a passar por fases críticas da vida.

O Oliver foi o primeiro. Era branco e rajado. Olhos verdes, a coisa mais linda. À noite ele saia vadiar. Não tínhamos informações adequadas sobre como cuidar de gatos e nem do impacto que eles causam à fauna... posso dizer que ao longo desses vinte anos evoluímos muito!
Antes de cair na farra ele me fazia dormir com cafuné nos cabelos.

É sério!

Eu deitava, ele vinha no travesseiro ronronando (eita barulhinho terapêutico!) e massageando meu couro cabeludo, como a gente fala “amassando pãozinho”. Enquanto eu não dormia, ele não parava. Foram os dois anos mais bem dormidos da minha vida toda hahahaha

Depois dele vieram o Mingau, Sapeca, Chico, Zé, Pituxa, Jaiminiho, Tiquinho, Linda, Luigi, Cindy, Iris, Boris, Will, Mel, Ciri, Lola, Max, Lis, Ozzy, Hugo, Maya... isso porque nem estou citando todos! (e só citei alguns gatos. Também tivemos vários cachorros durante a vida toda...). Todos criados dentro de casa, limpinhos e educados.

Há quase dois anos perdi a Lola. Ela ia completar sete anos comigo. Era branca e preta, o olhinho direito não piscava, encontramos ela magrelinha abandonada. Ela chegou na minha vida numa fase bem ruim e digo para o mundo todo que ela salvou minha vida. Mesmo sem ser afetuosa como um cão, estava sempre do meu lado e sabia exatamente quando eu não estava bem. Quando eu deitava à noite pra dormir chorando com a cara afundada no travesseiro, eu sentia umas patinhas pisando nas minhas costas e ali ela ficava até eu adormecer. Tinha o miado mais meigo do mundo e, quando me olhava, eu sentia que ela enxergava meu espirito. No começo eu tinha até medo, pois eu me fechei tanto que não queria outro ser vivo me enxergando como eu realmente estava naquele momento, mas aos pouquinhos ela foi amolecendo meu coração arrebentado e, se não fosse essas olhadas profundas de longos segundos, talvez hoje eu não seria capaz de olhar ninguém nos olhos, nem mesmo meu próprio reflexo no espelho.
Quando ela morreu eu senti uma dor horrível que nem sei explicar. Foi como se um pedaço de mim tivesse sido arrancado e um vazio enorme tomou conta de mim.
Hoje o que resta dela é uma saudade enorme daquela cara linda e uma tatuagem no antebraço.

Antes eu achava frio sentir isso por um animal não-humano (pasmem, humanos são animais também!) e não sentir isso por um parente. Mas o fato é que, a Lola, a gata, estava ali comigo o tempo todo. Todos os dias. Nas horas boas e ruins. Os parentes, os humanos, não.
Logo, é mais que natural cultivar um afeto maior por um ser que está presente do que por um que não está. Então, esse peso que eu sentia já se foi, e hoje falo com tranquilidade que ela faz mais falta do que muita gente.

Recentemente perdi o Ozzy-Jones. Meu gordo dengoso. Tinha seis anos e só tinha tamanho. Era um bunda mole que morria de medo da própria sombra. E agora ficaram o Hugo e a Maya.

E a Maya veio pra me salvar de novo (é eu preciso constantemente ser salva porque príncipes não existem, mas gatos são reais!)

Fazia muitos anos que não tínhamos um filhote de gato (e nem de cachorro) em casa e estávamos sentindo falta. Depois de algumas conversas, minha mãe permitiu adotar um filhotinho e eu esperei a hora certa pra adotar um.

A Maya chegou em casa com menos de 45 dias. De uma ninhada de 4, mal tinha dentes e o olhinho direito é cego devido à rinotraqueíte. O esquerdo tem uma deficiência na pupila e uma mancha preta na íris, mas ela enxerga os fiapos de linha dos meus amigurumis muitíssimo bem!

Com a ajuda do Abrace Patinhas, ela recebeu o tratamento necessário e sobreviveu. Miúda, barrigudinha de verme, me fez passar dois meses acordando de madrugada para leva-la na caixinha de areia até ser capaz de subir e descer da cama sozinha. Nas duas primeiras semanas, vivia no meu colo o dia todo. Dormia na rede que fazia com as camisetas que uso enquanto eu andava pela casa arrumando as coisas ou fazendo os amigurumis. Ela era super dependente de mim. Eu furei uma camiseta do Dragon Ball para fazer de rede estilo canguru para ela!

Agora, prestes a fazer 4 meses, tem dia que não dorme comigo e prefere a “solidão” do sofá, odeia colo, ama um carinho só enquanto come e já sabe se virar sozinha. No começo eu senti aquele aperto no fundo do peito por ela não depender mais dos meus cuidados, mas ela me ajudou a reforçar todo o aprendizado que os gatos que vieram antes dela me deram: amor não é dependência. Amor não prende, não possui, não sufoca.
O amor é livre e liberta, tanto quem o sente quanto quem o recebe.

E é assim que deve ser entre os humanos. Devemos sentir e enxergar o outro com a alma, e só depois amar com o toque.
Quando temos nosso interior (alma e espirito) completos, cheios, o amor que vem do outro transborda. Devemos ser completos e não jogar essa tarefa para o outro.

Gatos já têm sua alma e espírito completos, por isso dispensam os mimos externos que nós humanos tanto cremos que necessitamos.

Que a gente aprenda e saiba lidar com isso e entenda quem já aprendeu e está lidando e vivendo com isso. Não é frieza e nem falta de sentimentos. É autossuficiência e necessidade de liberdade.

Prestem atenção nos seus próximos, sejam eles humanos ou não. O que você sente quando está perto desse ser? Dependência ou liberdade?

“Ninguém, em toda a Natureza, aprendeu a bastar-se a si mesmo como o gato”
(Artur da Távola)

Esse foi o Divã de hoje.

Beijem muito os pets de vocês, mimem os dogs porque eles gostam e não sufoquem os gatos porque eles odeiam! Hahahahahaha
Joguem seus lixos no lixo, não usem canudinhos e até o próximo Divã!

;*

sábado, 19 de janeiro de 2019

Trabalho: qual é a sua profissão?


Booooa noite, pessoas que ficam em casa sábado à noite porque não gostam de sair ou porque não têm dinheiro para passear, tudo bem com vocês?

Hoje passei minha tarde de sábado trabalhando. Isso mesmo. Trabalhando. Se eu falar que não estou estressada por causa disso, alguém aí acredita?

Então, aproveitando essa vibe positiva em relação a trabalho, resolvi sentar e (tentar) organizar meus pensamentos sobre essa ação que nós, Homo sapiens adultos precisamos realizar para pagar os boletos da vida e poder, pelo menos uma vez ao mês, sair e curtir com os amigos ou sozinhos (já foram ao cinema sozinhos? É libertador hahahaha)

Há umas semanas estava conversando com o Juliano (aquele citado lá no primeiro post. Ele vai aparecer várias vezes aqui porque é com ele que tenho as conversas filosóficas e doidas da vida!) e nosso assunto era sobre ter paciência com pessoas que não levam nossos trabalhos a sério.

Para começar: você faz o que para ganhar dinheiro? Qual sua principal fonte de renda? Qual é o seu ganha pão? É registrado ou autônomo? Free lancer? Tem seu próprio negócio?

Pois então... quando você diz que trabalha em algum lugar ou para alguém, o povo fica ok.

“Ah, eu sou vendedora”
“Ah, que legal, em que loja? ”

“Ah, sou recepcionista”
“Nossa, que bacana”

“Eu sou gerente de loja”
“Nossa, uau! ”

E por aí vai. Mas já pararam pra notar que, quando você diz que trabalha com algo que a sociedade (ainda) julga como hobby, você é desmerecido, não tem muita atenção e ainda adicionam aquela MALDITA pergunta

“Ah, mas você só faz isso ou tem algum emprego? ”

Querem exemplos?

Hoje, atualmente, nos dias atuais (é bem no pleonasmo mesmo para salientar que anteriormente fui funcionária na área de fotografia e só tomei no cu) sou fotógrafa autônoma. Eu trabalho sozinha, cubro festas infantis sozinha, faço os ensaios externos sozinha, edito minhas próprias imagens, estudo como deixar meu portfolio mais bonito e atrativo, enfim, “é tudo eu”.
Recentemente (na verdade em abril faz um ano JÁ) comecei com os amigurumis e também faço tudo: respondo mensagens de encomendas e orçamentos nas redes sociais, faço os bonequinhos, fotografo os bichinhos prontos, edito as fotos, posto, faço as entregas, corro atrás de matéria prima, monto as etiquetas e tags e vou imprimir, corro atrás de embalagens, pesquiso como deixar as postagens mais interessantes, como montar cenários para as imagens, pesquiso e estudo sobre marketing digital e atendimento ao cliente, estudo como criar receitas novas para fazer novos bichinhos, compro receitas pagas de outras artesãs, enfim, FAÇO TODO O TRABALHO SOZINHA. Hoje já considero o título de artesã, junto com o título de fotógrafa, pois faço todo o trabalho, estudei e estudo para fazer as fotos e as peças todas bonitas e que deixem os clientes satisfeitos, pra ouvir alguém perguntar se eu tenho um FUCKING emprego quando digo que sou fotógrafa/amigurumizeira.

“Eu sou fotógrafa e faço amigurumis”
“Ah, legal. Mas você trabalha? ”

Meu...MEU...

Acho que as pessoas que trabalham com arte em geral (tatuagem, ilustração, edição de imagens, música, dança, teatro...) sofrem isso diariamente. HAJA PACIÊNCIA, né?

Vocês realmente acham que a arte não é um trabalho? É só diversão? Acham que a pessoa se mata pra estudar sobre aquilo por meses ou anos pra SÓ se divertir e AINDA ter um emprego?

Emprego não é aquilo que gera a renda da pessoa para ela pagar as contas dela? Ele precisa ser necessariamente uma coisa em que a pessoa seja subordinada de alguém que, na maioria dos casos, é uma pessoa filha da puta que explora o outro só porque “paga o salário” dela?

Bora pra etimologia da palavra TRABALHO e destrinchar esse assunto? (Créditos ao Juliano por me mandar essa explicação)

TRABALHO:
“...remonta à sua origem latina: tripalium (três paus) - instrumento utilizado para subjugar os animais e forçar os escravos a aumentar a produção. O tripalium era, pois, um instrumento de tortura, algo semelhante à cruz que o rebanho cristão adotou como objeto-símbolo. ”
“...deriva do latim tripalium ou tripalus, uma ferramenta de três pernas que imobilizava cavalos e bois para serem ferrados. Curiosamente era também o nome de um instrumento de tortura usado contra escravos e presos, que originou o verbo tripaliare cujo primeiro significado era "torturar"


Essas duas definições aí achei como resposta já naquela caixa de pesquisa do bendito GOOGLE, só digita “trabalho etimologia” lá que elas aparecem. Mas achei um site falando sobre isso de um modo mais profundo e ainda incluindo outros idiomas. Eis o link para leitura adicional (é bem curtinho, já adianto):


Logo, isso pode explicar porque o povo acrescenta essa pergunta besta quando a gente fala que é tal coisa e essa tal coisa não é considerada uma profissão. Socialmente, aprendemos que temos que trabalhar só por trabalhar, independente se isso é o que a gente gosta de fazer ou não.

Quando eu tinha 14 anos, me lembro de querer trabalhar para ajudar a pagar as contas de casa e comprar presentes para minha mãe. Ficava bem brava porque ninguém mais contratava menores de idade.
Aos 16 anos eu consegui uma vaga como vendedora free lancer durante o fim de ano e descobri que tem cliente legal, cliente chato sem educação e uns que além de tudo isso de ruim ainda se achavam superiores só porque estavam comprando e não vendendo.
Depois que conclui o técnico em química, trabalhei durante um ano em um laboratório com um patrão que adorava humilhar os funcionários. Pedi demissão. Meu estômago estava indo à merda com tanto nervoso que passava lá.
Fiz estágio durante uns 10 meses enquanto fazia facul num laboratório e saí porque meu contrato acabou. O horário era das 8h às 16h. O salário? TREZENTOS fucking reais. Ia todinho pra minha mãe!
Terminei a facul de biologia, não consegui trampo na área, e fui fazer fotografia.
Fiquei um ano e meio indo e voltando de van pra cidade vizinha, ao mesmo tempo que trabalhava das 8h às 18h de segunda a sábado como caixa em uma lotérica. Vi que aquilo não era pra mim e pedi pra sair.
Quando resolvi sair de lá, já tinha decidido que não iria mais trabalhar com o que não me agradava. Não queria passar a vida toda fazendo algo só pelo dinheiro.

Precisava pagar as contas? SIM.
Mas eu precisava TAMBÉM gostar de exercer aquela função. E decidi.

Durante esse percurso, continuei fazendo freela de vendedora na mesma loja que fui a primeira vez aos finais de ano e cobrindo férias. Mas já tinha em mente que era só temporário. Eu não queria mais ser funcionária. Subordinada. Escrava, muitas das vezes (porque até hoje, PASMEM, funcionários trabalham de graça).

Duvidam?

Depois de concluir o curso de fotografia, já ter feito algumas festas e alguns ensaios (a maioria cobrando bem pouco ou nada, só pra ter portfolio), achei uma vaga em um estúdio.
Achei que estava feita na vida. Diagramando álbuns. Auxiliando a fotografa...

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH

Eu consertei cagadas de antigo funcionário. DE GRAÇA.
Eu fui free lancer pelo estúdio cobrindo festas de aniversários infantis. DE GRAÇA.
Trabalhei o mês de dezembro das 9h até às 22h. SEM GANHAR HORAS EXTRAS.

No começo, eu refazia as merdas do beleza que saiu de boa. Nem horário de almoço eu fazia porque aquilo era uma tarefa que eu gostava de fazer: mexer no photoshop, praticar o que eu estudei por mais de um ano. Teve uma bela quarta-feira que ficamos até meia noite no estúdio corrigindo álbuns que estavam atrasados. E EU RECEBI ZERO REAIS.
Jurava que era uma chance de crescer profissionalmente.

AOAHAOHAOAHOAHOAUHAOUHAOUAHOUAHAOUHAOUAHOAUHAOUAHOUAH

Depois de fazer funções que nunca na vida pensei em fazer pra um “superior”, tipo ir ao banco com o celular da pessoa pra fazer senha de app, sair do estúdio e ir fazer foto lifestyle newborn DE GRAÇA sem nem receber ressarcimento da poha da gasosa, ir levar o dinheiro do caixa NA CASA do ser TODO FUCKING DIA, resolvi DE VEZ seguir sozinha na fotografia. Sem patrão nem patroa. Sem ninguém me mandando fazer tarefas absurdas. Sem trabalhar de graça pra quem é folgado.
Resolvi trabalhar pra mim.

E quando saí de lá, CHOVIA GENTE ME MANDANDO:

 “TEM VAGA DE VENDEDORA EM LOJA TAL. TEM VAGA DE SECRETARIA EM ESCRITORIO TAL. TEM VAGA DE BRUXA NO MATO TAL. LEVA SEU CURRICULO”

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

Além de estar frustrada, decepcionada, triste, O POVO AINDA ENCHIA O SACO ME MANDANDO VAGA DE PROFISSAO QUE NÃO TINHA NADA A VER COM A MINHA.

E sabe o que é mais engraçado? Eu tinha vergonha de dizer que era fotógrafa. Era tanta pressão vindo de fora me fazendo acreditar que “fotógrafo” não era uma profissão (pelo menos pra mim, porque pros fotógrafos mais famosinhos da cidade era a profissão mais linda, mas pra mim não funcionaria, do ponto de vista alheio) que, quando alguém me perguntava se eu “estava trabalhando” eu respondia que “por enquanto eu só tiro fotos”.


GENTE! Olha o que a sociedade que usa cabresto faz com a gente!

Aí, o que a pessoa aqui fez? Descobriu os amigurumis e começou a fazer crochê em forma de bichinhos fofinhos e a vender.

E.
Foi.
A.
Mesma.
Merda.

“Você trabalha? ”
“Não. Só tiro fotos e faço amigurumis. ”

PORÉM, ENTRETANTO, TODAVIA, isso não existe mais.

Eu consegui sarar boa parte do meu psicológico em relação a isso. Muita gente me inspirou, ainda me inspira e hoje eu consigo dizer que SOU FOTOGRAFA e SOU ARTESÃ.

Eu nasci pra trabalhar com arte. Com imagens. Com bichinhos lindinhos de crochê.
E se eu aprender a fazer outra coisa desse tipo, vou fazer e vender e adicionar na minha lista de profissões ativas.

Hoje eu digo que trabalho. Com fotos e artesanato. Eu encaro isso como trabalho e como profissão. E NÃO É FORÇADO. Faço meus próprios horários, cumpro todos eles porque senão vira zona... e eu amo! É divertido! Me faz bem, diferente das outras experiências que eu tive no passado.
E porque diabos não pode ser considerado trabalho e ser divertido ao mesmo tempo?

Deixa o significado doloroso do “trabalho” pra etimologia mesmo, né?

O trabalho ser chato, pacato, rotineiro e estressante não é uma regra que precisa ser seguida pra ser considerado uma profissão. Deixem de ser mentes pequenas!!!

Se você tá infeliz com o que faz pra ganhar seu dinheirinho, dá um jeito pra achar algo que te faça ganhar dinheiro e te faça bem ao mesmo tempo. Eu garanto que você não vai se arrepender. O caminho não é fácil. Não é um mar de rosas. Você tem que trabalhar MUITO também. A diferença é que é legal. É PRAZEROSO!

PAREM DE CONSIDERAR PROFISSÕES ARTISTICAS COMO HOBBY.
As pessoas investem dinheiro e tempo para exercer aquilo. Elas estudam. Elas praticam.

E PAREM DE DESVALORIZAR QUEM TRABALHA COM ARTES.
Achou caro? Compra o material e faça você mesmo. Afinal, é fácil e rápido, não é mesmo?
É parente ou amigo? VALORIZE.
Parem com esse fogo no cu de ficar pedindo coisa “de grátis” só porque é primo, tio, amigo, vô, irmão, conhecido.
A pessoa faz de graça se ela quiser. Ela não é obrigada! Ela gastou com equipamentos, materiais, cursos e transporte pra fazer o que ela faz hoje. NÃO SEJAM IMBECIS.

Aos músicos, artesãos, tatuadores, fotógrafos, ilustradores, pintores, escritores, a todos vocês que trabalham com algo que é subestimado como profissão pela sociedade “playboyzinha”: não desistam dos seus objetivos. Continuem. Aguentem as perguntas idiotas e piadas.
Se precisar mandar pra casa do caralho, mandem.

NÃO FAÇAM NADA DE GRAÇA SÓ PORQUE É PARENTE OU AMIGO. Valorize seu trampo, seu esforço, seu tempo e seu dinheiro investido.

Quem quer coisa de qualidade, tem que pagar o preço justo. Senão, manda ir fazer com a vizinha que cobra mais barato. A dor de cabeça não vale a pena.
E não tenha medo de ser seu próprio “patrão/patroa”.
Ninguém merece ter um “superior” torrando o saco a vida toda!

Hoje eu falo que sou, com muito orgulho:

Artesã – Atuante. Crocheteira e designer de amigurumis autodidata
Fotógrafa – Atuante. Especialista em fotografia close up, ensaios externos e festas infantis.
Bióloga – Atuante apenas aos finais de semana ou em passeios/viagens.
Técnica em Química – Inativa (que merda eu cheirei quando fui fazer esse curso?)


Bom final de semana.

Não dirijam embriagados, joguem seus lixos no lixo e não usem canudinhos de plástico ;)

;*

Até o próximo Divã!